27 fevereiro 2013

A tragédia, a justiça e a hipocrisia

A tragédia que resultou na morte do menino Kevin em Oruro mexeu com o Brasil e agitou torcedores de todos os clubes, que cobraram medidas rigorosas da Conmebol e vibraram com a decisão (inédita, até onde me lembro) de fazer o atual campeão da Libertadores e um dos principais clubes da América do Sul jogar pelo menos por 60 dias de portões fechados.

O blogueiro pode estar falando uma bobagem, mas algumas (muitas) reações me fizeram acreditar que a opinião não é tão errada assim e convido a todos a responder, despidos do manto da hipocrisia e falso moralismo, à pergunta abaixo.

E se ao invés do Corinthians fosse o SEU clube o envolvido na tragédia de Oruro? E se fosse o Fluminense? Atlético-MG? São Paulo? Grêmio? Será que o senso de justiça desses torcedores seria o mesmo ou teríamos outra postura?

Há alguns dias, tão logo saiu a decisão da Conmebol sobre o Alvinegro, postei no Twitter a seguinte frase elogiando a rapidez da entidade e relembrando outro caso recente: "Conmebol foi rápida e deu punição pesada ao Corinthians. Resta saber se fará o mesmo com o São Paulo por causa da Sul-Americana".

Foi a conta para alguns defensores da sanção ao Corinthians descarregassem a artilharia (alguns com uma falta de educação de fazer corar) e dizer que o caso são-paulino era diferente - o que nunca questionei, fazendo menção apenas à punição para a bagunça mal explicada que foi o fim de jogo.

As justificativas foram muitas, mas o simples fato de perguntar - e cobrar, por que não? - se a Conmebol seria tão rápida e firme geraram todo tipo de xingamentos e insinuações de que estou "contra o São Paulo".

A reação apenas escancarou o velho ditado que prega que aos amigos, tudo e aos inimigos o rigor da lei. Não hesito afirmar que a enorme maioria dos torcedores que cobram punição exemplar ao Corinthians o fazem por serem aproveitadores que têm o requinte de crueldade de utilizar a morte de um torcedor para expor os sentimentos mais rasteiros de um ser humano.

Por enquanto, nosso senso de justiça esbarra no limite da conveniência. Talvez por isso o Brasil esteja assim até hoje. Se nós não damos o exemplo, não podemos cobrar de mais ninguém.

Opinião

Sobre o São Paulo, se a Conmebol achou que o clube foi culpado pela confusão na Sul-Americana e não segurança aos adversários, deveria fechar os portões do Morumbi até o fim da participação da equipe na  competição. No mínimo. Se julgou que o Tigre iniciou o quebra-quebra de propósito para melar a partida, deveria ser excluído de competições continentais por pelo menos um ano.

O Corinthians deveria ser excluído da Libertadores. E sim, a atitude de um (ou alguns, ou muitos) deve causar reflexos em todos. Esse é o princípio da cidadania e ajuda a educar o povo.

Na tragédia de Heysel, o futebol inglês foi punido por cinco anos por causa de alguns vândalos. Basta ver a Premier League para saber se a punição valeu para algo.

Difícil imaginar uma tragédia desse tipo se repetindo com uma punição exemplar. Todos seriam fiscais na arquibancada e não acredito que alguém gostaria de ser apontado como responsável pela exclusão do clube de uma competição. É para se pensar.

Não acredito na seriedade da Conmebol a longo prazo. Penso que infelizmente Corinthians e São Paulo foram apenas bois de piranha para acalmar a opinião pública.

26 fevereiro 2013

O voo do Ganso

Há duas semanas, Adalberto Baptista conversou com membros da DIS e disse para todos ficarem tranquilos porque Ganso vai dar certo no São Paulo. O diretor de futebol, principal entusiasta da chegada do meia, aposta que ele dará muitas alegrias ao torcedor e quis deixar claro que não existe pressão em cima do meia.

Delcyr Sonda continua achando que fez a escolha certa ao colocar o jogador no Morumbi. Ele expressou isso há menos de uma semana em conversa com investidores.

O que tem deixado boa parte da diretoria com o pé atrás - embora isso não seja admitido publicamente - é que, na concepção dos dirigentes, Ganso já deveria estar alguns passos na frente em sua recuperação. Acreditam plenamente no talento do meia, mas esperam dele uma postura mais firme, de quem quer recuperar seu espaço na seleção e no futebol. A declaração de Juvenal Juvêncio dizendo que ainda não estava encantado apenas traduziu o que se passa na cúpula.

O mesmo vale para a DIS. Em matéria publicada no Estadão, uma das pessoas que ajudou a levar Ganso para o São Paulo lembra que sua adaptação era lenta mesmo no Santos, mas que no novo clube ele não tem lugar cativo. A empresa, obviamente, espera retorno financeiro e sabe que para isso precisará que jogue mais e de forma mais apaixonada. "O Ganso é apaixonado pelo último passe, mas às vezes acha que marcar não é pra ele e precisa mudar de atitude", disse a mesma pessoa.

Existe ansiedade para que o jogador mostre seu talento e "exploda" no Morumbi. Para piorar, além de não ter aproveitado as oportunidades que teve (contra o Linense até se esforçou, mas ficou claro que ainda precisa encontrar seu setor no campo), Jadson, seu concorrente se Ney Franco optar pelo 4-2-3-1, está em seu melhor momento.

Nesse cenário, ou Ganso começa a jogar muito bem ou vai ficar para trás. Por enquanto o clima é de expectativa positiva, mas pode começar a azedar se o jogador não der resposta em campo.

A bola está nos pés de Ganso. Pelo que já mostrou, ele saberá o que fazer com ela.

Opinião

Ganso precisa de mais jogos para emplacar, mas precisa mudar um pouco da sua mentalidade. Mais do que belos passes, ele precisa ajudar os companheiros quando não está com a bola.

Se o São Paulo atuar com dois meias e voltar ao 4-4-2, suas chances de conseguir a tal sequência aumentam bastante. Caso contrário precisa brigar com Jadson e o camisa 10 é o melhor do time no ano ao lado de Osvaldo.

Ney Franco, que nada tem com isso, segue correto na forma de utilizá-lo. Só vai ser 'forçado' a mudar de ideia se Ganso começar a comer a bola. E ninguém da DIS discorda das suas atitudes.

Vale destacar que a diretoria, mesmo querendo ver o jogador em campo, não faz qualquer tipo de pressão no treinador.

Este blogueiro acredita que se todos tiverem paciência e calma, Paulo Henrique Ganso jogará muita bola no São Paulo.