30 janeiro 2013

As bobagens de Ronaldo

"O sentimento que vejo nas ruas é de felicidade e expectativa para a Copa, muito diferente do tom das perguntas que a gente tem que responder aqui". Isso não saiu da boca de nenhum político ou autoridade, figuras que geralmente tentam sair pela tangente quando confrontados por perguntas "desagradáveis".

Saíram da boca de Ronaldo, um dos maiores jogadores de todos os tempos e membro do Comitê Organizador Local da Copa, justamente quem mais deveria fiscalizar e cobrar as autoridades sobre o bom uso do dinheiro público para a organização do mundial. O mesmo que disse que "Não se faz Copa do Mundo com hospital".

Ao invés disso, apegou-se ao ufanismo cego e torpe em que o país mergulhou nos últimos tempos. Só se deve elogiar, qualquer coisa fora disso é estar "contra o Brasil".

A imprensa livre existe para fiscalizar, cobrar, criticar e estimular o debate entre as pessoas. É pilar fundamental de um regime democrático justamente por ser, em tese, o contraponto das versões oficiais e pasteurizadas dos fatos.

Talvez Ronaldo ache melhor falar da "alegria do povo nas ruas" a tentar explicar, por exemplo, por que o custo do Mané Garrincha, no Distrito Federal (território agreste em termos de futebol), saltou de R$696 milhões para R$1,2 bilhão.


Ou porque Jérôme Valcke, número dois da Fifa, atuou como consultor da candidatura brasileira.

Ou porque o orçamento já está estourado em mais de R$3 bilhões, mesmo com uma série de obras prometidas que não serão concluídas.

Ou porque apesar disso tudo, ele mesmo, Ronaldo, trocou afagos públicos com Ricardo Teixeira, afogado em um mar de denúncias de corrupção a tal ponto que fugiu para os Estados Unidos.

Se não tivesse virado empresário, poderia-se atribuir o comentário à ignorância. Não é o caso. Parece mais ter enveredado para o lado da política, no pior dos sentidos.

Tomou caminho inverso de Romário, que surpreendeu a muitos (este blogueiro inclusive) com uma postura crítica contra os desmandos com nosso dinheiro. Não à toa o Baixinho será um ídolo eterno,

Ronaldo, o ídolo, morreu quando se aposentou. Ronaldo, o político das frases infelizes, surgiu em seu lugar e parece capaz de se superar a todo instante. Uma pena

Ao invés de passar por novos constrangimentos, poderia seguir os conselhos do ex-companheiro e aprender a ser um poeta de boca fechada.

08 janeiro 2013

Messi, Messi, Messi, Messi....

Tão repetitivas quanto as Bolas de Ouro de Messi seriam as palavras para tentar descrever as qualidades de um talento que parece não ter limites.

A primeira imagem que me recordo do argentino é do Mundial Sub 20 quando ele marcou um golaço e ajudou a eliminar o Brasil. Na época, era "mais uma promessa de craque" que vinha sendo trabalhado com cuidado pelo Barcelona.

De lá para cá nunca mais interrompeu a rota de ascensão. Passou dos limites humanos; virou um alienígena, "jogador de Playstation", como disse Arsène Wenger após mais uma exibição descomunal.

Messi não é plástico como foi Ronaldinho, clássico como Zidane, forte como Ronaldo. Mas seu segredo é esse. Ele não é nada. E tudo. Ao mesmo.

Aquele que "só" dribla para a esquerda, mas nunca é pego.

Que tenta ser derrubado por zagueiros muito maiores, mas sempre passa.

Que bate falta, escanteio, dá assistências, faz gols. Muitos gols. Inacreditáveis 91 só em 2012.

"Falta Messi ganhar uma Copa", diriam alguns. Não, é a Copa que precisa ter o nome de Messi entre seus campeões. E azar de quem achar que só um título mundial o equipara a Maradona.

E Pelé?

Não vi jogar, mas Lionel tem 25 anos, joga em um dos maiores times da história e parece longe de atingir seu limite. Por que não?

Se é cedo para dizer que ele será melhor que o Rei, o mesmo vale para quem afirma com peito estufado que isso jamais acontecerá.

Enquanto isso comemoramos a chance de ver esse talento em campo. Vida longa a Messi. Que ele nos faça perder as palavras por muitas e muitas vezes.

Ser redundante será um prazer.

04 janeiro 2013

O bom exemplo de Boateng

Diante da inércia constrangedora da Fifa diante dos frequentes casos de racismo no futebol, coube ao ganês Kevin Prince Boateng reagir e se retirar do campo ao ouvir insultos em uma partida do Milan. Os companheiros e o técnico Massimiliano Allegri o acompanharam e fizeram muito bem.

Mais incrível que ainda sermos obrigados a assistir a esse tipo de comportamento em pleno século 21 é a Fifa continuar se calando sobre o tema e tomando poucas atitudes (ou nenhuma, já que multa se mostrou ineficaz)  para coibir manifestações que põe em dúvida a evolução da humanidade. A entidade que diz lutar pelo fair play não faz nada, apenas olha.

É preciso fazer algo logo. Suspensão, exclusão de torneios, prisões, qualquer que seja a medida necessária, passou da hora de tomá-la.

Que os clubes deixem de lado a demagogia e se unam à causa para pôr fim a esse tipo de coisa.

E que os jogadores sejam menos coniventes com o que veem e parem de apenas lamentar. Que Boateng não seja apenas exceção e sim regra de agora em diante.

Até que esse mal saia de uma vez por todas dos estádios.

(O nojento vídeo está logo abaixo)

03 janeiro 2013

Para que Pato não seja Mico

Não tem mais volta: Por R$40 milhões, Alexandre Pato é do Corinthians.

Apareceu como fenômeno no Internacional, foi vendido como promessa ao Milan e começou bem, com gols e a promessa de ser enfim o sucessor de Ronaldo na seleção. Ganhou fama, fortuna e status, namora a filha do dono do clube.

E se perdeu.

Pouco a pouco trocou o campo pelo departamento médico e os gols pelas lesões - foram 15 em dois anos, quando só esteve presente em 25 dos 78 jogos da equipe! Sumiu da seleção e virou uma sombra do que nem um dia chegou a ser.

Pato despontou como promessa de craque, mas parece que não passará disso. Não é ídolo e até agora não mostrou ter o carisma necessário para se tornar tal. Nunca teve na raça e na fibra suas características; pelo contrário, é um tanto blasé. Características exatamente opostas às esperadas pela Fiel.

Apesar disso tudo.......é claro que se os gols voltarem, tudo ficará de lado e ele cairá nas graças da mais fanática torcida do Brasil. É uma aposta de risco onde o Corinthians tem muito mais a perder do que o jogador, mas também pode ganhar alto, daí a decisão por abraçar a incerteza.

O departamento médico terá um desafio e tanto pela frente e se conseguir colocá-lo em campo com frequência, terá um atleta capaz de atrair a mídia e projetar ainda mais a imagem do clube no exterior. Se não é craque, Pato é acima da média e isso pode pesar em uma equipe que já está toda azeitada. Por motivos óbvios, fará tudo para estar disponível sempre.

Pode dar certo.

Talvez mais importante do que a negociação em si seja a confirmação do novo patamar do futebol brasileiro. Imaginar que um clube tiraria um jogador de uma das maiores equipes do mundo pagando 15 milhões de euros seria insanidade há alguns anos. Hoje é uma realidade.

E o Corinthians vai nadando de braçadas como clube mais organizado do Brasil. A negociação e a apresentação no site oficial são apenas a confirmação. Que sirva de exemplo para os demais.

A chance está dada. Resta a ele mostrar que é aquele garoto que apareceu encantando o Brasil e não apenas mais um aspirante a craque que teve apenas alguns lampejos de glória.

Por enquanto, é apenas uma cara incógnita.